1° Fórum de Mobilidade Urbana de Teresópolis apresenta pesquisa da WRI e reúne técnicos para análise de desafios e propostas de soluções

27/09/2024 5 min leitura
O 1º Fórum de Mobilidade Urbana de Teresópolis, realização da Semove, no auditório do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), reuniu, no dia 26, técnicos da iniciativa privada e do poder público, representantes da Coppe/UFRJ e de outras entidades, a fim de analisar os desafios da mobilidade urbana na cidade serrana do Rio de Janeiro, trazendo exemplos de outras cidades, como da Região Metropolitana de Vitória (ES) e dados do cenário nacional. Nos quatro painéis apresentados, ficaram claros alguns problemas comuns a várias cidades brasileiras: o custo da tarifa, alto para os passageiros e insuficiente para os operadores; o crescimento de meios de transporte alternativo e a perda de demanda; a falta de prioridade para o transporte por ônibus nas vias públicas; o aumento dos custos operacionais, com o crescimento constante do preço do diesel; e a importância da realização de pesquisas para identificação de oportunidades de melhoria, a serem baseadas em dados confiáveis.
No primeiro painel, o analista de Mobilidade Urbana da WRI Brasil, Henrique Cabral, trouxe resultados da Pesquisa de Satisfação Qualiônibus feita em agosto deste ano em Teresópolis, que mostra indicadores importantes para os clientes do serviço, poder público e operadores. A pesquisa, com metodologia desenvolvida pela WRI, foi realizada anteriormente na cidade nos anos de 2019 e 2023. Foi idealizada por grupo de benchmarking composto por técnicos de 25 cidades, do qual a Semove faz parte, e constitui importante ferramenta para o desenvolvimento de planos de mobilidade urbana e implantação de melhorias no sistema. Os pesquisados demonstraram confiança no modal ônibus (63%), mas apontaram alguns pontos que consideram precisar de aprimoramento: o conforto em pontos de ônibus e terminais, o tempo em congestionamentos e a exposição a ruídos e poluição estão entre eles. O atendimento ao cliente, a segurança no trânsito e a segurança pública foram bem avaliados, conseguindo as três melhores notas. Cabral ressaltou a importância da pesquisa para o aprimoramento do transporte coletivo e destacou que devem ser realizados também outros tipos de pesquisa e ampliada a comunicação com o cliente do transporte público. O erro amostral para as notas de satisfação é de 0,25%.
No segundo painel, a diretora de Mobilidade Urbana da Semove, Richele Cabral, fez apresentação enviada pelo diretor executivo da NTU, Francisco Christovam, impedido de comparecer por motivos pessoais. Sob o título “O panorama atual do Transporte Público no Brasil”, mostrou o impacto da pandemia na busca de alternativas para manter a sustentabilidade do serviço de transporte em várias cidades brasileiras, que adotaram soluções como a tarifa zero, a concessão de subsídios temporários ou definitivos. Esses mecanismos ainda não estão inteiramente consolidados, mas já se percebeu que a tarifa zero, por exemplo, adotada hoje por 136 cidades, só funciona bem para aquelas com um perfil de alta arrecadação, o que é muito pouco comum. A crise que o setor enfrenta, bem anterior à pandemia e que ficou evidente com a sua ocorrência, agravou problemas como o envelhecimento da frota, custos não cobertos pela tarifa, apesar de altos para o consumidor, perda de demanda e da qualidade do serviço. O pós-pandemia trouxe tentativas de evitar o colapso, com iniciativas como a separação entre tarifa pública e de remuneração e o novo marco legal. Foram citadas pesquisas realizadas pela própria NTU e pela CNT, disponíveis no site da NTU, que trazem informações detalhadas sobre o assunto.
O cenário da capital fluminense foi tema do terceiro painel, apresentado por Paula Leopoldino, gerente de Gestão da Mobilidade do Rio Ônibus, sobre o tema “O transporte público por ônibus no município do Rio de Janeiro: da pandemia ao subsídio”. Paula apresentou dados operacionais, como o número de linhas (450) e de empresas (29) e falou sobre o acordo assinado em 2022 entre os consórcios, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e o Ministério Público, a partir do qual foi implantada a tarifa de remuneração no Município. A medida permitiu manter a tarifa pública em R$ 4,30 e, embora ainda com dificuldades, deu às empresas operadoras a oportunidade de um início de recuperação. A engenheira enfocou também a transparência e o controle no envio de dados operacionais à Prefeitura da capital.
No último painel, o subsecretário de Mobilidade do Espírito Santo, Leo Carlos Cruz, apresentou o caso do transporte público em seu Estado, em que o poder público apoiou fortemente as operadoras durante a pandemia, assumindo o ônus da aquisição do óleo diesel e conseguindo manter a oferta de ônibus para a população dentro dos padrões de normalidade. Cruz abordou a importância do poder público assumir a responsabilidade pela infraestrutura e, quanto ao subsídio, afirmou: “Não estamos subsidiando as empresas, mas as pessoas, os clientes”. O subsecretário alertou para o fato de que os políticos não podem ter medo de tomar medidas antipáticas a certos grupos quando se trata de mobilidade urbana, porque têm que colocar o interesse coletivo em primeiro lugar, e a maioria depende do transporte público em seu dia a dia. Entre as decisões governamentais que vêm melhorando a qualidade do transporte na Grande Vitória, citou obras para melhoria em 10 terminais, a volta do transporte aquaviário, após mais de 20 anos, e sua integração ao sistema Transcol, a absorção do sistema municipal de transportes dos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana pelo poder público estadual. Leo Cruz falou de obras de engenharia para infraestrutura dos transportes em locais onde foram criados também espaços de convivência para a população, da utilização de energia fotovoltaica nos terminais e da ampliação da Terceira Ponte, que incluiu mudança que evitou as constantes tentativas de suicídio que ocorriam em seu vão central. Quanto à sustentabilidade, afirmou que o governo do Estado vai receber recursos do PAC para compra de ônibus elétricos, mas está ainda querendo “entender melhor” a alternativa, uma vez que o Brasil tem amplas possibilidades de biocombustíveis. Leo frisou que “o ótimo é inimigo do bom” e que cada cidade deve fazer o que pode, da melhor forma, e buscar soluções dentro de suas realidades.
Durante a mesa-redonda que finalizou o evento, o mediador Glaydston Mattos Ribeiro, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Coppe/UFRJ e diretor-executivo da Fundação Coppetec, provocou os quatro painelistas, que aprofundaram as questões apresentadas e apresentaram sugestões de melhoraria na mobilidade de Teresópolis. A priorização do transporte público nas vias, o planejamento para que se tenha deslocamentos mais adequados, a construção de abrigos e terminais que ofereçam conforto ao passageiro,  uma melhor interlocução com o passageiro, tanto por parte do poder público, quanto das empresas, a articulação entre os vários agentes do transporte, criação de um plano de mobilidade urbana, inclusive para ter condições de obter recursos do governo federal e a adoção de um sistema de financiamento que permita a redução da tarifa, via subsídio, desoneração, custeio de gratuidades, entre outras possibilidades. Por ser uma cidade turística, medidas que facilitem o trânsito e melhorem a qualidade do transporte podem trazer um retorno significativo para a economia de Teresópolis.
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