Diretora e gerente da Semove debatem sobre segurança pública e saúde da população no 21º Rio de Transportes

09/12/2024 4 min leitura

Realizado nos dias 5 e 6 de dezembro, na Inovateca, no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o 21º Rio de Transportes, promovido pela UFRJ, através da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), debateu o desenvolvimento do transporte público no Brasil. O evento reuniu técnicos, pesquisadores, profissionais de transportes, e gestores públicos e de empresas privadas.

No primeiro dia, a gerente de Mobilidade Urbana da Semove, Eunice Horácio, participou da mesa-redonda sobre segurança pública na mobilidade das pessoas, que discutiu as iniciativas para combate aos assaltos, incêndios e importunação sexual nos ônibus. Eunice citou a recente pesquisa da CNT que mostra que “a segurança pública ainda é um dos pontos que afasta as pessoas do sistema de transportes nas grandes cidades. A gente percebe que as pessoas não utilizam o transporte público porque têm medo. Assaltos, vandalismos, ônibus incendiados, tudo isso faz com que as pessoas se sintam inseguras no transporte coletivo”, disse. A gerente destacou algumas iniciativas da Semove para combater a violência urbana, como a parceria com o Disque Denúncia, o lançamento da plataforma Ônibus em Chamas, o programa contra a importunação sexual nos ônibus e a ferramenta Safe (Sistema de Acompanhamento de Frota em Emergência), destacando o convênio entre a Semove e o Instituto de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, para o compartilhamento de dados com as forças policiais.

Eunice ressaltou ainda que é fundamental pensar no deslocamento das pessoas desde o início da sua origem, passando pela caminhada e pela espera no ponto até entrar no ônibus, e que calçadas acessíveis e iluminadas e pontos de parada com abrigo, iluminação e informação, além de faixas preferenciais para realizar viagens mais rápidas, não apenas melhoram a sensação de segurança, mas de fato reduzem a exposição ao risco.

Foto: Arthur Moura

Denunciar é responsabilidade de todos

Também integraram a mesa: o coordenador do Disque Denúncia, Renato Almeida, e a gerente de Gestão de Mobilidade do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), Lorena Freitas. A moderação ficou a cargo do professor da Coppe, Matheus Oliveira. Almeida ressaltou a importância de proporcionar um transporte seguro à população. “Com o Disque Denúncia, cada relato é uma ferramenta de proteção, sempre garantindo o anonimato para quem denuncia”, disse. Ele destacou que não apenas as vítimas da violência devem denunciar, mas todos que estão no entorno podem ajudar a tornar o sistema mais seguro e melhor para todo mundo.

A representante do ITDP falou das diferenças entre as realidades de quem mora em regiões distantes do seu local de trabalho e de quem reside mais próximo. “Muitas vezes a gente não percebe o quanto o ambiente urbano e a distância entre pessoas e oportunidades colocam esses grupos numa situação de muita vulnerabilidade”, afirmou. Ela defendeu a aproximação entre os locais de moradia e de trabalho, lembrando, no entanto, que também é fundamental oferecer oportunidades de lazer e cultura, através do acesso inclusivo e equitativo às cidades, com a redução dos deslocamentos.

“A voz do passageiro é importante”

A diretora de Mobilidade Urbana da Semove, Richele Cabral, foi uma das oradoras na mesa-redonda sobre “Impacto do tempo de deslocamento no transporte sobre a saúde ocupacional da população economicamente ativa na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, no segundo dia de evento, quando a professora do Cefet-RJ, Cíntia Oliveira, apresentou estudo sobre o assunto.

“É sensacional a gente conseguir ter voz e mostrar o quão importante é o transporte público; não só para o deslocamento das pessoas, mas para a vida delas como um todo, mostrando a questão da qualidade de vida e bem-estar”, ressaltou Richele. Na opinião da diretora, há uma espécie de conformismo da população com relação ao tempo que as pessoas passam no transporte público. “É preciso mudar isso e lutar para que haja investimentos que possam alterar essa realidade. A voz do passageiro é importantíssima nesses casos”, finalizou.

“Círculo vicioso do transporte”

A mesa foi moderada pelo professor da Coppe, Glaydston Mattos Ribeiro, e contou ainda com os palestrantes: Rodrigo Tortoriello, consultor em mobilidade urbana através da Urucuia Mobilidade e da RT2 Consultoria; Gabriela Barbosa, psicóloga especialista em estresse e burnout; e Wilson Tayar, médico especialista em Medicina do Trabalho. Tortoriello chamou atenção para o risco de um “círculo vicioso do transporte”, pois, quando se entra nele, a tendência é migrar para o transporte particular, seja em automóvel próprio, veículo de aplicativo ou moto, na contramão da sustentabilidade.

Gabriela Barbosa disse que o profissional de saúde, muitas vezes, aconselha o paciente a mudar sua rotina de deslocamento, por verificar o estresse gerado por viagens cansativas no transporte público. Ela lembrou que muitas vezes, além do trânsito lento, a espera no ponto é acompanhada pelo desconforto e pelo medo causado pela falta de segurança pública, o que aumenta a ansiedade e a sensação do tempo transcorrido. Wilson Tayar enfatizou as consequências físicas de uma rotina estafante sem as necessárias pausas para o lazer.

Políticas públicas e planejamento

Outros importantes debates sobre a questão da mobilidade permearam grande parte do Congresso, como: “Desafios e oportunidades para a melhoria da qualidade do transporte por ônibus na cidade do Rio de Janeiro: mobilidade, sustentabilidade e inclusão”, “A mobilidade estendida e o direito à cidade”, “Mobilidade corporativa: o papel das empresas em prol do transporte sustentável” e “Desafios e propostas para uma mobilidade integrada e sustentável na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”. Todas as palestras estão disponíveis no canal do youtube do Rio de Transportes (www.youtube.com/@RiodeTransportes). Os vídeos de cada dia de evento estão publicados na página “Ao vivo”.

Os debates acabaram por se mostrar, de certa forma, semelhantes, uma vez que as soluções dependem muito de políticas públicas. Investir em mobilidade urbana, como em segurança pública, é investir na saúde do cidadão, em qualidade de vida, no bom funcionamento das cidades. Pesquisa do ano passado, da Coppe/UFRJ, sobre as mudanças nos hábitos de deslocamento verificadas na população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, como recente pesquisa publicada pela CNT sobre a mobilidade da população urbana mostraram que é preciso tirar o transporte público do círculo vicioso que provoca queda significativa de demanda, através de políticas públicas de priorização nas vias, subsídio, planejamento integrado, visão sistêmica e outras, que vêm sendo apontadas pelos técnicos do setor há bastante tempo.

Foto: Arthur Moura