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Diversos estudos evidenciam a existência de desigualdades de gênero no mercado de trabalho seja no âmbito salarial ou na ocupação de posições de liderança e da alta hierarquia. Segundo dados divulgados pelo Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021, menos de 55% das mulheres formavam a força de trabalho do país enquanto que para os homens esse número era de 74%. Além disso, em relação a renda, as mulheres recebiam cerca de 77% do montante recebido por homens, sendo pior nos maiores cargos. Esses números mostram que mesmo com o avanço das últimas décadas, ainda existe um longo caminho a se percorrer na busca da equidade.
Na mobilidade urbana, essas desigualdades se confirmam. De acordo com Banco Interamericano de Desenvolvimento (2015), as mulheres representam mais de 50% dos passageiros de transporte público, porém, são uma parcela muito pequena dentre os profissionais que atuam no setor seja na área operacional, planejamento, infraestrutura ou tomada de decisões. Mas no que isso pode influenciar no cotidiano de nós mulheres? A resposta é simples: a mobilidade urbana pensada apenas por homens pode invisibilizar alguns pontos urgentes habituais e restritos ao público feminino.
O primeiro ponto importante é entender que o padrão de deslocamento feito por homens e mulheres é diferente e nesse contexto surge a discussão da influência de atividades reprodutivas e produtivas na mobilidade urbana. As atividades reprodutivas são um objeto de múltiplas práticas que vão além da função parental e abrange o trabalho doméstico, social e de assistência a pessoas em situação vulnerável. Em geral, essas ações são delegadas ao público feminino e demarcam uma rotina diária intensa que envolve deslocamentos com cargas físicas (carrinhos de bebê, sacola de compras etc.), paradas mais frequentes e desvios de percurso. Já as viagens ligadas a atividades produtivas são mais simples, representando, em geral, os deslocamentos casa-trabalho-casa mais direcionados aos homens (BID, 2021). A Figura 1 traz um esquema ilustrando a distinção do que ocorre normalmente nos deslocamentos de homens e mulheres.
Figura 1. Comparativo entre deslocamentos de homens e mulheres.
Fonte: Adaptado de ITDP (2022)
Além das diferenças dos deslocamentos entre homens e mulheres, existe um fator que é considerado na escolha do padrão de viagem das mulheres: a violência. Se por um lado todos os cidadãos estão sujeitos a violência urbana (roubos, furtos etc.), o assédio e a importunação sexual, são determinantes na maneira como as mulheres se deslocam. Dito isso, a infraestrutura e a operação do sistema de transporte podem facilitar ou não tais ações criminosas. Fatores como a superlotação, falta de agentes de segurança, a dificuldade de denunciar, e até o design e iluminação dos veículos e pontos de parada podem impactar a experiência das mulheres no transporte. Esses pontos são tão sensíveis ao nosso universo feminino que não nos incluir na discussão desses fatores é continuar reproduzindo um ambiente inseguro e hostil para a gente.
Visto a importância da compreensão das diferenças entre homens e mulheres na mobilidade, algumas medidas podem ser implementadas para diminuir essa problemática:
Um caso interessante sobre a implementação de medidas como essas é o da empresa La Rolita. A operadora pública de transportes de Bogotá assumiu o compromisso de operar com 50% de motoristas mulheres. Dessa forma, a empresa se consolida como a primeira empresa do setor de mobilidade a promover a equidade de gênero, causando grande impacto num setor majoritariamente masculino e projetando-se como exemplo para o mundo.
Mesmo com a adoção das medidas apresentadas, é importante entender que as mulheres não formam um grupo homogêneo e questões como etnia, classe socioeconômica, idade, limitações físicas etc. influenciam em vivências e necessidades distintas. Por isso, existe a necessidade de se ter em mente que a representatividade é fundamental para um espaço democrático de discussão da mobilidade.
Dessa forma, a discussão da igualdade de gênero atrelado ao mercado de trabalho da mobilidade urbana tem o objetivo de tirar a mulher de um lugar de sujeito passivo do sistema de transporte e a colocar numa posição mais ativa seja na gestão, planejamento, operação e fiscalização, reconfigurando a sua importância em um setor marcado pela presença e domínio masculino. Com mais mulheres, a mobilidade urbana expande seus horizontes e se atenta a questões urgentes a esse grupo trazendo mais inclusão e equidade.
Artigo escrito por Richele Cabral, diretora de Mobilidade Urbana da Semove.
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