Gerente da Semove participa de webinar sobre transição energética e combustíveis sustentáveis

27/06/2024 3 min leitura

O Brasil tem condições e tecnologia para desenvolver as melhores soluções para sua transição energética. Esta foi a principal conclusão extraída do webinar “Transição energética e combustíveis sustentáveis: o Brasil como modelo”, realizado dia 26 de junho, pelo portal Integridade ESG, que divulga informações sobre as melhores práticas ESG em empresas e instituições. O debate foi mediado pela editora do portal, Cintia Salomão, e transmitido pelo Youtube e LinkedIn da plataforma.

Biocombustível e eletrificação

Um dos debatedores, o gerente de Planejamento e Controle da Semove, Guilherme Wilson, apontou os principais desafios da transição no modal de transporte coletivo por ônibus, que, no estado do Rio de Janeiro, reúne 180 empresas, com uma frota de mais de 16 mil veículos. Wilson alertou que é preciso cuidado na adoção da eletromobilidade no transporte público, especialmente com relação ao investimento necessário em infraestrutura. “Para abastecer uma garagem com 200, 300 ônibus, é preciso trazer alta tensão. Então, essa garagem poderá consumir mais energia do que um bairro inteiro da localidade. E essa alta tensão não está disponível”. 

O gerente acrescentou que, para eletrificar os 100 mil ônibus da frota rodoviária do Brasil hoje, são necessários R$ 350 bilhões de investimento. “É um dinheiro que não existe. Não existe fonte de financiamento para isso”, disse. Ele defendeu que é preciso investir no biocombustível. “Essa é a nossa bandeira hoje. Sem deixar de fazer as eletrificações dentro da dose que cabe a cada cidade, a cada região metropolitana, a cada disponibilidade de orçamento de cada município, de cada estado”. Wilson comparou as duas soluções de transição energética: “se nós pegássemos o óleo de soja que temos e produzíssemos HVO (diesel verde), de forma equivalente, estaríamos eletrificando 100 mil ônibus do país, do ponto de vista de descarbonização”.

Brasil é diferente

Para Márcio D’Agosto, professor da Coppe/UFRJ e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS), o Brasil tem características bem diferentes das de outros países, com muitas alternativas interessantes, que inclusive podem ser consideradas também para reforçar o pilar social da agenda ESG. Aqui, segundo D’Agosto, existem diferentes matrizes energéticas que podem conviver juntas na transição e os diferentes segmentos de transporte precisam ser olhados individualmente. 

O professor defende a eletrificação de determinado segmento do transporte rodoviário de carga e de passageiros, o uso do biocombustível em outros segmentos e até mesmo a manutenção do óleo diesel, com uma tecnologia mais aprimorada e em um determinado período de tempo, em algumas áreas da mobilidade com maior dificuldade em fazer a transição. “As opções devem ser exploradas da melhor forma, pois existem recursos e capacidades de financiamento diferenciados”, enfatizou.

Priorização do coletivo

Sobre a utilização do hidrogênio, D’Agosto afirmou que pode ser utilizado na indústria, nos serviços ou nos transportes, mas que seria uma opção de longo prazo para o âmbito dos transportes. Ele também falou sobre a priorização do transporte coletivo como questão fundamental para a transição energética. “Um ônibus urbano consome um décimo da energia que consome um automóvel individual, que normalmente transporta apenas uma pessoa; significa reduzir em 10 vezes a emissão de gás de efeito estufa”, explicou.

O coordenador de Sustentabilidade da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), Pedro Moré Garcia, informou que o Brasil terá soja cultivada com desmatamento zero já a partir de 2025 e que o biodiesel virá dessa matéria-prima. Ele disse que o governo tem atuado bastante nesse sentido e que o Ibama tem reforçado a fiscalização em relação ao desmatamento, auxiliando a indústria da soja no monitoramento da produção. Segundo Garcia, existem vários produtos e possibilidades para a produção de biocombustíveis, permitindo inclusive o incremento da agricultura familiar. “A produção do biodiesel tem um papel importante, pois possibilita não só o benefício ambiental pela questão de emissões, mas também o social, por conta de toda uma cadeia que é abastecida e que garante empregabilidade tanto na indústria quanto na agricultura familiar”, destacou o representante da Abiove.

O webinar está disponível na íntegra no YouTube.