O sistema de transporte por ônibus e sua relação com o meio ambiente

02/06/2023 4 min leitura

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado no dia 5 de junho com o objetivo de promover e incentivar ações individuais e coletivas voltadas para a construção de um futuro sustentável. Essa data representa uma oportunidade importante para conscientizar a sociedade sobre os desafios ambientais enfrentados pelo nosso planeta e destacar a necessidade de preservação e uso responsável dos recursos naturais.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 90% da população mundial está exposta a níveis elevados de poluentes atmosféricos no ar respirado. Essa exposição contínua tem consequências significativas para a saúde humana, incluindo doenças respiratórias e cardiovasculares. Além disso, a poluição do ar pode afetar a função pulmonar, agravar condições existentes e diminuir a expectativa de vida. Para enfrentar esse desafio global, é necessário adotar políticas abrangentes que incentivem o uso de transporte público e implementem medidas de controle de emissões.

No contexto mundial, o setor de transportes é responsável por cerca de 24% das emissões mundiais de dióxido de carbono de acordo com dados do WRI (2016), sem contar outros gases prejudiciais à saúde. Entretanto, vale destacar que quase 60% desse número é proveniente dos deslocamentos feitos com carros e apenas 27% dos ônibus.

Ainda em relação ao CO2, quando comparamos os ônibus aos automóveis de passeio, segundo o IPEA (2011), o índice de emissões (metro=1) é de 4,6 em ônibus e de 36,1 em automóveis. Ou seja, praticamente 8 vezes mais (7,84) nos carros. Em termos práticos, uma viagem feita de carro emite o equivalente a 30g de CO2 por passageiro, enquanto a mesma viagem feita de ônibus emite 16g, ou seja, 8 vezes menos poluente.

Se aplicada essa lógica a uma via importante do Rio de Janeiro como a Linha Amarela que recebe aproximadamente 140 mil veículos por dia, mais de 461 toneladas de CO2 deixariam de ser lançadas na atmosfera diariamente se os carros fossem substituídos por ônibus.

Fonte: Adaptado de NTU e IPEA (2011)

Segundo Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, a poluição está aumentando devido ao crescimento da frota de veículos e à diminuição da velocidade do tráfego. Essa redução na velocidade faz com que os carros emitam mais poluentes quando ficam presos em congestionamentos. E os cidadãos, por sua vez, passam a maior parte do tempo em corredores de tráfego congestionados, onde os níveis de poluição são consideravelmente mais elevados do que a média da cidade.

Além disso, diversos operadores do sistema de ônibus adotam boas práticas complementares que estão alinhadas com as preocupações ambientais atuais. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a Semove, por meio do Programa Despoluir e Convênio Selo Verde, deixou de emitir na atmosfera 1.087,97 toneladas de Material Particulado (MP) e 48.432,91 toneladas de CO2, somente em 2022 . No acumulado desde 1997, o valor total de CO2 não emitido equivalente, se comparado ao plantio de árvores, a mais de sete vezes a área do Parque Nacional da Tijuca.

Portanto, a priorização do transporte público por ônibus se destaca como uma solução para mitigar os impactos ambientais adversos associados ao uso excessivo de veículos particulares, desempenhando um papel fundamental na redução da poluição atmosférica e das emissões de gases de efeito estufa através de sua priorização. Enquanto os automóveis particulares são reconhecidos como significativos emissores de dióxido de carbono e outros poluentes, os ônibus oferecem vantagens consideráveis em termos de redução da pegada de carbono.

A adoção de faixas exclusivas e corredores de ônibus é uma estratégia utilizada para melhorar a eficiência energética e a atratividade do transporte público por ônibus. Ao organizar a via com espaço destinado ao tráfego de ônibus, tem-se uma melhoria na fluidez, o que potencializa ainda mais a sua eficiência energética, visto que veículos parados em congestionamentos emitem mais gases poluentes que em fluxo contínuo. A melhoria desse indicador resulta no aumento da velocidade operacional e na maior confiabilidade do sistema, tornando-o mais competitivo com outros modos de transporte.

Outro ganho da priorização do transporte por ônibus em relação ao uso de transporte motorizado individual é a diminuição do uso do espaço urbano. Na imagem abaixo, por exemplo, os mesmos 70 passageiros transportados por um ônibus, ocupariam o equivalente a 45 até 70 carros na via, considerando a ocupação média do carro particular. Pelo aspecto ambiental, tal intervenção é benéfica uma vez que o asfalto potencializa a formação de ilhas de calor e impossibilita a drenagem do solo.

Fonte: Adaptado de Cycling Promotion Fund

Os resultados evidenciam a necessidade da priorização, representando a importância do transporte público para a sustentabilidade e para a qualidade de vida da população. O Dia Mundial do Meio Ambiente é uma oportunidade para nos lembrar da importância desse tópico e manter vivo os debates sobre os cuidados com a natureza. A poluição do ar é um problema significativo que afeta a saúde da população, sendo necessária a adoção de políticas abrangentes para melhorar a qualidade do ar e reduzir impactos adversos.

O ônibus mostra-se como uma solução eficaz, especialmente se houver a implementação de faixas e corredores exclusivos que melhoram a atratividade do transporte coletivo e reduzem o uso de veículos particulares, contribuindo para a diminuição das emissões de gases poluentes. Para mais, a priorização do transporte público possibilita a criação de espaços mais democráticos, promovendo a melhoria da qualidade de vida nas áreas urbanas. Ações como essas são essenciais para construir um futuro sustentável e preservar o meio ambiente.

Artigo escrito por Rafael Falcão, engenheiro de transportes.

Comentários

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *