Relatório da NTU mostra impactos da pandemia no transporte por ônibus

12/04/2023 3 min leitura

Levantamento realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), entre fevereiro de 2020 e abril de 2023, traça um panorama dos impactos causados pela pandemia da Covid-19 no setor de transporte público por ônibus no Brasil. A perda financeira acumulada entre março de 2020 e fevereiro de 2023 chega a R$ 36 bilhões. Já os empregos diretos no setor, do início da pandemia até janeiro passado, tiveram redução de 90 mil. Além disso, 55 operadoras/consórcios operacionais interromperam a prestação de serviços e foram registradas 397 paralisações, em 108 sistemas de transportes coletivos por ônibus no período.

De acordo com o relatório, a recuperação do número de passageiros transportados no pós-pandemia já atingiu 82,8% dos níveis verificados antes e que a expectativa é de evolução positiva da demanda. “Recuperamos cerca de 80% da demanda que tínhamos, mas perdemos, definitivamente, uma parcela de clientes para o e-commerce, para o home-office, para os aplicativos e para a carona solidária”, esclarece Francisco Christovam, presidente-executivo da NTU. Quanto à perda financeira, Christovam esclarece que jamais será recuperada. “Não se trata de uma receita diferida, ou seja, de recursos que deixamos de receber, mas que poderemos reaver no futuro. É um dinheiro que nunca mais entrará no caixa das empresas operadoras”, afirma.

A NTU entende que existem três desafios a serem superados, a curto prazo, pelas empresas: tentar recuperar os passageiros que deixaram o ônibus e optaram por outros modos de deslocamento; não perder mais passageiros e atrair novos clientes. “Estamos cientes de que esse desafio é muito maior agora, porque, depois da pandemia, alguns atributos da viagem sofreram mudanças significativas. Atualmente, os passageiros se tornaram mais exigentes e, para eles, não basta que o serviço tenha regularidade e confiabilidade. Hoje, eles querem também pontualidade, segurança, conforto, menos lotação e melhores condições de espera dos ônibus nas estações de embarque e desembarque”, avalia o presidente.

O relatório da NTU revela ainda outro fenômeno do pós-pandemia, que é a implementação da tarifa zero, especialmente nas cidades de pequeno porte, com população menor do que 50 mil habitantes, que representam 55% dos casos. Hoje, no total, já são 74 cidades que adotam a tarifa zero, no País. Desse total, 67 implementaram tarifa zero em todo o sistema de transporte, durante todos os dias da semana. Em três cidades, a tarifa zero abrange todo o sistema, somente em dias específicos da semana; e, nas quatro cidades restantes, engloba parcialmente o sistema, durante todos os dias da semana.

Mesmo com forte impacto financeiro, acumulado durante a pandemia, as empresas estão mais otimistas. O levantamento da NTU mostra que, antes da Covid-19, apenas São Paulo e Brasília tinham subsídios expressivos em relação ao custo total de produção dos serviços. Hoje, são 59 sistemas de transporte urbano, com subsídios permanentes, abrangendo 159 cidades. O estudo também revela que foram implementadas 153 iniciativas de concessão de subsídios pontuais, em 138 sistemas de transportes coletivos urbanos, para garantir a continuidade da oferta de serviço, durante a pandemia. O presidente executivo da NTU informa que, até o momento, 38 sistemas já fazem a diferenciação da tarifa de remuneração, que cobre os custos da prestação do serviço, para a tarifa pública, que é o valor pago pelo passageiro, para realizar a sua viagem. Essa prática já abrange 12 capitais e regiões metropolitanas e outras 26 cidades.